Regista-se um reconhecimento crescente da necessidade da liderança para o desenvolvimento, sobretudo no domínio das reformas. É através da liderança, na acepção do processo de mobilização de pessoas, ideias e recursos com vista à consecução de um propósito, que criamos um verdadeiro espaço para a mudança.[1] Porém, a liderança é frequentemente vista como algo que é exercido apenas pelos dirigentes políticos, frequentemente pela pessoa do Ministro, descurando o trabalho dos burocratas que têm iniciado e impulsionado reformas de grande significância nos seus países.
Nos últimos anos, a CABRI tem conseguido observar os factores que contribuíram para o sucesso das reformas de GFP através de mais de cem diálogos de intercâmbio entre pares e de 18 equipas nacionais que participaram no nosso programa de Reforço das Capacidades de GFP. Temos vindo a reconhecer que a liderança e o compromisso fortes são cruciais para a concretização das reformas. Contudo, temos igualmente observado que os técnicos, por vezes, não sentem que podem apropriadamente desempenhar o seu papel de impulsionar as reformas. As razões por isto incluem barreiras políticas ou administrativas perante a ausência de incentivos claros para se arriscarem a encetar reformas de GFP. Em muitos casos, os técnicos das finanças aguardam o ímpeto político antes de iniciarem a reforma, embora possuam os conhecimentos necessários para saberem o que podia e devia ser feito para melhorar a gestão e a credibilidade do processo orçamental. Embora o apoio político seja um factor imprescindível para qualquer reforma ambiciosa, são os burocratas os responsáveis pela implementação e, nesse contexto, estão em boas condições para ser os impulsionadores da mudança.
A série sobre histórias de liderança oferece histórias impulsionadoras de burocratas que conseguiram iniciar mudanças nos seus sistemas de GFP, independentemente dos obstáculos de carácter político e administrativo. Recorrendo a exemplos concretos, a série demonstra que os técnicos podem realizar reformas de GFP nos seus países.
[1] Andrews, M., McConnell, J. and Wescott, A.O., 2010. Development as Leadership-Led Change-A Report for the Global Leadership Initiative and the World Bank Institute (WBI).
As histórias ilustram que, não obstante os inúmeros obstáculos, os técnicos podem iniciar mudanças ao tomarem acções e criar a apropriação nas suas administrações. Têm fortalecido a sua autoridade informal sem contar unicamente no poder de jure para encetar mudanças no status quo.
O quadro aplicado para documentar as histórias baseia-se na literatura em matéria da Liderança Adaptiva[1] e os vídeos expõem o papel dos técnicos das finanças públicas na mobilização de acções para mudança ao:
1. Chamar atenção ao problema. Frequentemente, as reformas bem-sucedidas começam pela resolução de um problema que necessita ser definido com clareza e bem comunicado para que seja reconhecido como tal no seio da administração.
2. Reforçar a autoridade informal. Para mudar a situação vigente, os funcionários públicos podem ter de ultrapassar as suas prerrogativas vigentes e criar uma coligação de apoiantes para incitar a aceitação ao fomentar a aceitação dos mesmos ou obter legitimidade ao demonstrar progressos concretos.
3. Tomar acção. Com o nível certo de autoridade e aceitação, os técnicos devem realizar esta acção ao criar uma equipa, organizar o trabalho a um ritmo adequado e adaptar as suas acções periodicamente para resolverem o problema.
4. Reflectir sobre o trabalho. Ao assumir responsabilidades adicionais, os técnicos reflectem sobre os resultados e desafios que enfrentam e, com base no que aprendem, aprofundam as reformas.
Os vídeos estão repartidos entre estes quatro aspectos e constituem testemunho directo por parte de técnicos das finanças que exercem ou exerceram as suas funções e que iniciaram e lideraram reformas de GFP em contextos difíceis.
[1] Heifetz, R. and Linsky, M., 2017. Leadership on the line: Staying alive through the dangers of change. Harvard Business Press.
A CABRI tem usado as histórias de liderança em matéria da GFP como material de apoio para o seu programa de Reforço das Capacidades de GFP e alguns dos seus diálogos políticos para estimular os participantes a reflectirem sobre os factores de liderança nas reformas de GFP. Esperamos que os técnicos afectos à função pública possam inspirar-se e tirar ilações destas histórias sobre como navegar as complexidades da mudança. Iremos documentar mais histórias nos meses vindouros. Fique atento!