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A responsabilização pública é essencial para combater as alterações climáticas em África

29 março 2021
Delaine McCullough
Delaine
(Photo by CABRI)

Delaine McCullough chefia a secção de Responsabilização pelo Financiamento para o Clima junto da International Budget Partnership. Ela e o Paul Steele, Economista Chefe no Instituto Internacional para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, lideram a componente C do programa IBFCCA, que trabalha no sentido de fortalecer os actores e as práticas de fiscalização e transparência. Moderou a sessão 3b subordinada àsupervisão e responsabilização orçamental, lições de África e Ásia” no evento de aprendizagem e intercâmbio entre pares relativa à integração das alterações climáticas nos orçamentos e nas finanças. O blog oferece boas perspectivas sobre o protagonismo importante das organizações da sociedade civil em matéria do fortalecimento da supervisão e responsabilização orçamental.

A iniciativa relativa à Orçamentação e Financiamento Inclusivos para as Alterações Climáticas em África (IBFCCA, na sigla inglesa) adoptou uma abordagem única e exaustiva para a promoção de elos mais fortes entre as políticas relativas às alterações climáticas e orçamentos públicos entre os governos, as instituições formais de supervisão e uma vasta gama de actores não estatais —tanto nos países individuais como em toda a região. Esta abordagem integrada, multilateral, ficou patente na primeira sessão regional de intercâmbio entre pares da IBFCCA, subordinada à responsabilização pública, que decorreu em Fevereiro de 2021.

O destaque atribuído pela IBFCCA ao reforço da gestão das finanças públicas e da responsabilização em relação às alterações climáticas reconhece que a crise do clima, ao ameaçar os ecossistemas naturais em que dependem as nossas vidas, as sociedades e as economias, corresponde, em simultâneo, a um desafio de carácter ambiental, económico e de desenvolvimento.

Trata-se, igualmente, de um aspecto relacionado com a equidade. Os pobres, as mulheres e todas as pessoas marginalizadas correm um maior risco de perder os seus parcos recursos, os seus meios de sustento e, potencialmente, as suas vidas, devido aos impactos das alterações climáticas. A incapacidade de enfrentar este risco desproporcional, ao mesmo tempo de combatemos os efeitos das alterações climáticas, ameaça prejudicar os esforços de desenvolvimento nos países e agravar a pobreza e as desigualdades que se registam na região.

A resposta às alterações climáticas será um dos maiores desafios para as finanças públicas no futuro próximo. Os governos nacionais e subnacionais desempenham um papel preponderante, tanto na mitigação das causas das alterações climáticas como na adaptação aos seus impactos. Algumas das respostas passam por regulamentos e outras políticas, mas a grande maioria passaria pelos sistemas de finanças públicas, quer seja por políticas associadas às receitas, como por impostos sobre o carbono, que influenciam indirectamente os comportamentos dos investidores e das pessoas individuais, ou por intermédio de despesa directa em infra-estruturas, programas e serviços.

De modo a gerirem do melhor modo os recursos avultados necessários para as respostas relativas ao clima, os países devem desenvolver e manter sistemas e práticas sólidos e formais de responsabilização em relação às finanças públicas. A par disto, as evidências apontam para uma governação mais eficaz e responsável das finanças para o clima se sistemas formais estiverem integrados nos “ecossistemas de responsabilização”. Um ecossistema de responsabilização dinâmico exige a colaboração entre um conjunto de actores da sociedade civil (ou seja, organizações da sociedade civil (OSC), grupos de reflexão sobre políticas, defensores actuando no sector, organizações baseadas na comunidade, etc.) e outros actores estatais e não estatais relativamente à aplicação dos recursos financeiros relacionados com o clima.

Ecosystem

O Ecossistema da responsabilização

State actors

Actores estatais

Courts

Tribunais

Supreme Audit Institution

Instituição Superior de Controlo

Parliament

Parlamento

Media

Meios de comunicação social

Civil Society

Sociedade civil

External actors

Actores externos

Non-State actors

Actores não estatais

Cientes de que as OSC e outras organizações não governamentais desempenham um papel essencial, a IBFCCA promove uma visão mais lata da supervisão e responsabilização, na qual os governos, as instituições de supervisão, os actores civis e os cidadãos se concentram em melhorar as políticas, a execução e, em última análise, os resultados. Neste modelo, as OSC e outros actores do foro cívico podem:

  • Facultar informação a respeito das necessidades das pessoas e das comunidades, bem como recomendações baseadas em evidências para melhorar a aplicação dos recursos;
  • Aceitar os governos e as instituições de supervisão como aliados, susceptíveis de os manter informados sobre o que se passa no terreno e fornecer assistência técnica;
  • Monitorizar a implementação das políticas, programas, e projectos e introduzir a informação sobre o que está a funcionar ou não no processo de definição de políticas e de responsabilização; e
  • Sensibilização e capacitação das comunidades e de outras organizações para poderem participar nos processos de planeamento, implementação e supervisão.

A sessão subordinada à responsabilização pública durante o encontro da IBFCCA contou com a participação de um painel que se debruçou sobre o potencial de uma colaboração mais estreita entre a sociedade civil e o governo para uma melhor gestão das finanças públicas para a acções de mitigação e adaptação.

Primeiro, contribuindo com lições colhidas da Ásia, Tanjir Hossein, o chefe do programa de resiliência e justiça climáticas da ActionAid Bangladesh (AAB), referiu-se aos esforços envidados pela sociedade civil no sentido de contribuir para os debates sobre orçamento para o clima e de trabalhar com o governo na elaboração de uma resposta às alterações climáticas. Desde 2009, a AAB, o International Centre on Climate Change e o Development and the Citizens Budget Movement—uma coligação de organizações da sociedade civil—tem participado nos processos de planeamento para as alterações climáticas, reagido a propostas de orçamentos para o clima a nível nacional e começo a monitorizar a despesa relacionada com o clima nas comunidades em risco.

George Osei-Bimpeh, director de país da SEND-Gana, seguiu com exemplos de como a SEND colabora com a Oxfam International numa iniciativa de orçamentação sensível ao género, assim contribuindo para a definição de abordagens para o financiamento climático responsivo ao género. A par da sua colaboração com o governo em matéria das políticas orçamentais com impactos nas mulheres, nos pequenos agricultores e nos objectivos de desenvolvimento sustentável, a SEND também tem vindo a colaborar com a instituição suprema de controlo do Gana para divulgar os pareceres das auditorias e exigir respostas apropriadas do governo. O Sr. Osei-Bimpeh comentou que “a SEND-Gana possui uma larga experiência em fazer a articulação entre as pessoas e as comunidades, e os processos de definição do orçamento e de prestação de contas de modo a assegurar que os recursos públicos sejam aplicados para responder às prioridades públicas, pelo que estamos ansiosos por colaborar com o governo e outros actores em relação à questão fundamental do financiamento para o clima.”

Em conclusão, Ronald Mugobera, assistente de programas do grupo da sociedade civil para a advocacia orçamental (Civil Society Budget Advocacy Group - CSBAG) do Uganda, apresentou aos participantes o trabalho desta coligação de 100 grupos da sociedade civil visando aumentar a participação pública no domínio da orçamentação. O CSBAG mantém uma relação formal com o Ministério das Finanças, Planeamento e Desenvolvimento Económico para melhorar a participação dos cidadãos na orçamentação, acompanhamento da execução orçamental e contribuir para a supervisão. O grupo colabora também com o Gabinete do Auditor Geral no sentido de acompanhar os pareceres da auditoria e apresentar análises do orçamento e propostas alternativas do orçamento ao Paramento e ao governo. O Sr. Mugobera explicou, “O CSBAG já tomou os primeiros passos para analisar como o governo do Uganda está a responder à desintegração do clima e seus impactos nas pessoas e nos sectores, o que nos levou a aprofundar a nossa participação no planeamento e nas finanças públicas para o clima.”

Estes breves resumos abordam apenas superficialmente o trabalho destas organizações e as várias formas como as organizações da sociedade civil podem contribuir para criar a articulação entre os cidadãos e o orçamento e contribuir para os esforços do governo no sentido de aplicar o sistema de finanças públicas para apoiar o progresso rumo aos objectivos primordiais da IBFCCA ao:

  • reduzir os impactos negativos das alterações climáticas, sobretudo no que respeita às mulheres; e
  • ajudar a identificar e promover oportunidades de crescimento de baixo carbono.

A IBFCCA dará continuação ao diálogo regional em torno das finanças públicas inclusivas e responsáveis para o clima num intercâmbio entre pares subordinado a este tema em Agosto de 2021. Servirão de base para este intercâmbio as avaliações das perspectivas relativas às finanças para o clima no Gana e no Uganda em curso pela SEND-Gana e CSBAG.

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